segunda-feira

Pôquer é mania global e esporte milionário!!!

Se você também torceu o nariz ao ler o título desta reportagem, trate de abrir a cabeça: pôquer é esporte, sim. E quando praticado em alto nível, pode render milhões em torneios de luxo espalhados por todo planeta.
O assunto tem deixado para trás o estigma de mero jogo de azar se consolida cada vez mais no universo das modalidades mentais, como o xadrez e gamão. O trabalho de promoção acirrado, o apoio constante de entidades beneficentes e as cifras gordas dos maiores shows nos últimos cinco anos foram providenciais para transformá-lo em mania global.
"Nosso circuito alavanca turismo e finanças. Temos impacto econômico muito significativo nas cidades onde passamos", afirma o espanhol David Carrión, presidente do Lapt (Latin America Poker Tour).
O evento, um dos mais estabilizados no mundo, desembarcou pela primeira vez em São Paulo semana passada, contou com 500 jogadores de 15 nacionalidades. O prêmio proposto foi de R$ 500 mil. "A quantia gerada varia de um lugar para outro. Prefiro falar de detalhes em números gerais. Cada show movimenta fisicamente 900 pessoas e 9,5 milhões de telespectadores", emenda o mandatário.
A perna do Lapt no Brasil deu largada para a temporada. Posteriormente, o evento passará por Argentina, Chile, Colômbia e Peru. A prefeitura paulista deu respaldo total. "Aprendi que o pôquer é coisa séria. Exige destreza máxima para lidar com adversidades. Muitos ainda pensam apenas na parte negativa. Mas desvios de conduta acontecem em todos os esportes", explica o secretário de Esportes, Lazer e Recreação, Walter Feldman.
Atletas de outros esportes, principalmente do futebol, também elegeram o pôquer como principal passatempo em concentrações. "Tem de blefar na hora certa e ter estratégia. Aprendi em Portugal, quando estava no Benfica. Na primeira vez que joguei, perdi 100 euros. Tem de disputar a dinheiro, para que os adversários tenham medo", comenta Anderson, zagueiro do Santo André.

EXPANSÃO
A CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold'em), forma mais popular do jogo, estima que atualmente há 2 milhões de praticantes no País. As disputas on line também têm crescimento vertiginoso, e chegam a reunir 200 mil pessoas simultaneamente.
Em 2010, o canadense Jonathan Duhamel, faturou US$ 8,9 milhões, bracelete de ouro com diamantes e sagrou-se campeão mundial. Segundo colocado, o norte-americano John Racener ficou com US$ 5,5 milhões.

Akkari aposta na ousadia e já acumula R$ 4,5 milhões
 "Comecei há cinco anos. Todos me olharam torto, mas tinham razão. Tinha duas filhas pequenas para criar e larguei tudo por causa de um jogo que a maioria pensava ser apenas coisa de viciados e trapaceiros". É assim que o paulista André Akkari, 35 anos, conta como precisou de coragem para arriscar a mudança radical no cotidianoe se tornar um dos jogadores profissionais mais bem-sucedidos do Brasil na atualidade.
Akkari trabalhava no desenvolvimento de softwares. Um dia, teve de elaborar programa específico para alimentar um site sobre pôquer e pegou gosto pelo assunto. Começou estudar e não parou mais. "É misto de tática, estudo e leitura de comportamento. Sorte ajuda em 1 ou 2%", explica.
Após vencer o Bellagio Cup (torneio em um dos maiores hotéis dos Estados Unidos) duas vezes, passou para o time de profissionais brasileiros do Lapt, que tem mais quatro pessoas. De lá para cá, já faturou cerca de R$ 4,5 milhões em prêmios. E busca mais. "Chegou a hora dos brasileiros vencerem alguma etapa internacional para consolidar nosso estilo. Pressão faz parte. Pôquer é extremo, mas gostamos disso", diz.

Personagens e estilos conquistam novos apreciadores
Descontar a falta de emoção prática do pôquer em personagens, estilos e clichês próprios também ajudou a popularizar o jogo.
Membros de diversas tribos podem ser vistos nas mesas de disputa. Desde motociclistas, roedores de unhas em geral, nerds, intimidadores e até típicos caubóis norte-americanos.
Como no jogo é preciso sangue frio para não esboçar reações, óculos escuros e bonés (ou chapéus) são básicos, quase sempre acompanhados de fones de ouvido, anéis e relógios de ouro espalhafatosos. "Olhamos mais para o rosto dos adversários que para a mesa. Às vezes, é impossível não apertar os olhos em momentos cruciais. Por isso, os usamos (óculos). Vale tudo para tentar permanecer impassível", afirmou André Akkari, membro profissional do circuito.
"São comuns premiações em joias vistosas. Então, muitos deixam isso sempre a mostra, para revelar experiência", completou.
Pelo mundo, as características de jogo também mudam de acordo com a nacionalidade. "Os nórdicos são calculistas, os alemães intimidam o tempo todo", afirmou David Carrión, presidente do Tour. "O estilo brasileiro ainda está em evolução, mas sabemos que vocês não têm medo de arriscar", emendou.
Vale também um sem-fim de objetos supersticiosos. É comum ver pequenas figuras de plástico ou borracha, joias, pedras preciosas e outros amuletos em cima das cartas e fichas distribuídas para serem usadas nas jogadas.

Fonte: http://www.dgabc.com.br